Roteiro 2
A multiplicação de pães e peixes
Objetivo: Interpretar, à luz do Espiritismo, a multiplicação dos pães e dos peixes, realizada por Jesus.
IDEIAS PRINCIPAIS
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O fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes pode ser interpretado sob dois enfoques espíritas: como figura alegórica, representativa de alimento espiritual; como efeito da doação magnética do Cristo, que produziu materialização dos alimentos, necessários a alimentar a multidão faminta.
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A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos incrédulos. […] Entretanto, a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo. Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer. Allan Kardec: A gênese, Capítulo 15, item 48.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
1.1 Primeira multiplicação de pães e peixes
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E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. E já o dia começava a declinar, então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse. Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta. E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços. Lucas, 9.10-17.
1.2 Segunda multiplicação de pães e peixes
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E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão? E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete e uns poucos peixinhos. Então, mandou à multidão que se assentasse no chão. E, tomando os sete pães e os peixes e dando graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos, à multidão. E todos comeram e se saciaram, e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços. Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala. Mateus, 15.32-39.
O fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes, considerado milagre por algumas teologias cristãs, é relatado pelos quatro evangelistas e aconteceu em duas oportunidades distintas: uma num lugar deserto nas proximidades de Betsaida, outra, antes do território de Magdala. Na primeira multiplicação, a partir de cinco pães e dois peixes, Jesus alimenta cinco mil pessoas, e ainda sobram doze cestos com pedaços desses alimentos. Na segunda multiplicação, quatro mil pessoas tiveram a fome saciada, tendo como base sete pães e alguns peixinhos, sobrando sete cestos com pedaços.
A primeira multiplicação é relatada nesse texto de Lucas e, também, por Mateus, 14.13-21, Marcos, 6.34,35 e João, 6.1-14. A segunda, por Mateus, no texto citado e por Marcos, 8.1-10. Não há dúvida, portanto, de que o fato aconteceu.
Importa, entretanto, indagar: como ocorreu, efetivamente, a multiplicação de pães e peixes?
Para o Espiritismo, o Cristo produziu materialização de pães e de peixes. Entretanto, é importante que este efeito físico conduza o estudioso ao entendimento das implicações espirituais de que o fenômeno se reveste: mais importante que o alimento material, deve-se ficar atento à alegoria do “alimento espiritual”, simbolizado nos ensinamentos de Jesus.
Temos de distinguir dois aspectos: o material e o espiritual. Materialmente falando, o fato pertence ao gênero dos fenômenos de efeitos físicos. E nas sessões espíritas de efeitos físicos, já se tem observado a formação de objetos pelos Espíritos com auxílio dos médiuns. Jesus, médium de Deus, ajudado pela mediunidade de seus doze discípulos e assistido pelos Espíritos que o secundavam nos trabalhos evangélicos, faz com que se materializem em suas mãos os bocados de pão para o povo. (8)
Pode-se perceber nessas passagens evangélicas […] “mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio.” (3)
A interpretação que se segue dos registros de Lucas e de Mateus, inseridas neste Roteiro, será realizada concomitantemente, destacando-se que as poucas diferenças existentes entre os dois registros, são mais de forma do que de conteúdo.
2. Interpretação dos textos evangélicos: primeira parte
Texto de Lucas: primeira multiplicação
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E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. E já o dia começava a declinar, então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse. Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta. (Lc 9.10-14).
Texto de Mateus: segunda multiplicação
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E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão? E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete e uns poucos peixinhos. Então, mandou à multidão que se assentasse no chão. (Mt 15.32-35).
No texto de Lucas, os apóstolos revelam preocupação com a quantidade de pessoas para alimentar. Pedem, então, a Jesus para dispensá-las: “E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto”.
No outro texto, Mateus anota que o Cristo percebeu a necessidade de alimentar as pessoas, movido pela compaixão: “E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho”.
Em ambas as citações se identifica a necessidade de auxiliar a multidão faminta. Há, porém, uma grande diferença: o primeiro texto informa que a iniciativa foi dos apóstolos, por desejarem ficar livres do problema, daí terem pedido ao Cristo: “Despede a multidão”. O segundo texto relata que a percepção inicial foi do Cristo, que tendo compaixão dos que o seguiam por três dias, quis alimentá-los. Ambos, Jesus e os apóstolos identificaram a problemática: alguém com fome. A resolução do problema, entretanto, seguiu o nível de entendimento de cada um: livrar-se da dificuldade ou amparar os que sofriam a privação.
Lucas registrou que, por ter Jesus detectado nos apóstolos o sentimento de “querer livrar-se do problema”, disse-lhes: “Dai-lhes vós de comer” (Lc 9.13). Justamente o que eles não queriam fazer, por ignorar como, afinal só possuíam alguns pães e peixes. Uma inesquecível lição foi ensinada por Jesus naquele momento:
Diante da multidão fatigada e faminta, Jesus recomenda aos apóstolos: — “Dai-lhes vós de comer”. A observação do Mestre é importante, quando realmente poderia ele induzi-los a recriminar a multidão pela imprudência de uma jornada exaustiva até o monte, sem a garantia do farnel. O Mestre desejou, porém, gravar no espírito dos aprendizes a consagração deles ao serviço popular. Ensinou que aos cooperadores do Evangelho, perante a turba necessitada, compete tão somente um dever — o da prestação de auxílio desinteressado e fraternal. Naquela hora do ensinamento inesquecível, a fome era naturalmente do corpo, vencido de cansaço, mas, ainda e sempre, vemos a multidão carecente de amparo, dominada pela fome de luz e de harmonia, vergastada pelos invisíveis azorragues da discórdia e da incompreensão. Os colaboradores de Jesus são chamados, não a obscurecê-la com o pessimismo, não a perturbá-la com a indisciplina ou a imobilizá-la com o desânimo, mas sim a nutri-la de esclarecimento e paz, fortaleza moral e sublime esperança. (11)
Com Sua autoridade, o Mestre veio abrir o entendimento dos seres quanto às realidades que norteiam o crescimento espiritual. Ensinou que todo processo renovador sublima-se nos fundamentos do Amor e da Caridade, perfeitamente identificáveis nos textos em estudo. Afiançava Jesus, quanto à multidão, que não queria “despedi-la em jejum”, para que não desfalecesse pelo caminho. O Amor é, sem dúvida, o substancioso alimento das almas. Erguido no alicerce da realização efetiva e consciente, identifica necessidades e peculiaridades a cada criatura humana, em processo de auxílio continuado do Senhor junto do semelhante.
Assim, quando informado sobre a escassa provisão de alimentos, a primeira providência do Mestre foi manter a situação sob controle, com equilíbrio, daí afirmar: “Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta” (Lc 9.14), ou, “mandou à multidão que se assentasse” (Mt 15.35). É importante que a ordem e a harmonia sejam preservadas, principalmente quando surge a dificuldade. Emmanuel interpreta com lucidez essas orientações de Jesus, tendo como base não os dois textos evangélicos citados neste Roteiro, mas o de João, 6.1-14:
Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas. Verifica-se quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de pão, no isolamento da natureza. Os discípulos estão preocupados. Filipe afirma que duzentos dinheiros não bastarão para atender à dificuldade imprevista. André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada e dois peixes. Todos discutem. Jesus, entretanto, recebe a migalha sem descrer de sua preciosa significação e manda que todos se assentem, pede que haja ordem, que se faça harmonia. E distribuí o recurso com todos, maravilhosamente. A grandeza da lição é profunda. Os homens esfomeados de paz reclamam a assistência do Cristo. Falam n’Ele, suplicam-lhe socorro, aguardam-lhe as manifestações. Não conseguem, todavia, estabelecer a ordem em si mesmos, para a recepção dos recursos celestes. Misturam Jesus com as suas imprecações, suas ansiedades loucas e seus desejos criminosos. Naturalmente se desesperam, cada vez mais desorientados, porquanto não querem ouvir o convite à calma, não se assentam para que se faça a ordem, persistindo em manter o próprio desequilíbrio. (10)
É de fundamental importância, contudo, analisar que a preocupação dos apóstolos era justa. É natural admitir que ante “[…] o quadro da legião de famintos, qualquer homem experimentaria invencível desânimo, considerando a migalha de cinco pães e dois peixes. Mas Jesus emprega o imenso poder da bondade e consegue alimentar a todos, sobejamente.” (14)
O texto de Mateus assinala, por outro lado, a seguinte indagação de Jesus: “Quantos pães tendes?”. Então, os apóstolos respondem: “Sete e uns poucos peixinhos”.
Observemos que o Senhor, diante da multidão faminta, não pergunta aos companheiros: — “de quantos pães necessitamos?” mas, sim, “quantos pães tendes?”. A passagem denota a precaução de Jesus no sentido de alertar os discípulos para a necessidade de algo apresentar à Providência Divina como base para o socorro que suplicamos. Em verdade, o Mestre conseguiu alimentar milhares de pessoas, mas não prescindiu das migalhas que os apóstolos lhe ofereciam. (13)
“Quantos pães tendes?” é indagação que traz implicações de ordem espiritual.
A pergunta denuncia a necessidade de algum concurso para o serviço da multiplicação. Conta-nos o evangelista Marcos que os companheiros apresentaram-lhe sete pãezinhos, dos quais se alimentaram mais de quatro mil pessoas, sobrando apreciável quantidade. Teria o Mestre conseguido tanto se não pudesse contar com recurso algum? A imagem compele-nos a meditar quanto ao impositivo de nossa cooperação, para que o Celeste Benfeitor nos felicite com os seus dons de vida abundante. […] — Que tendes? Infinita é a Bondade de Deus, todavia, algo deve surgir de nosso “eu”, em nosso favor. Em qualquer terreno de nossas realizações para a vida mais alta, apresentemos a Jesus algumas reduzidas migalhas de esforço próprio e estejamos convictos de que o Senhor fará o resto. (12)
3. Interpretação dos textos evangélicos segunda a parte
Texto de Lucas: primeira multiplicação
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E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços. (Lc 9.15-17).
Texto de Mateus: segunda multiplicação
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E, tomando os sete pães e os peixes e dando graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos, à multidão. E todos comeram e se saciaram, e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços. Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala. (Mt 15.36-39).
Allan Kardec considera a possibilidade de ter Jesus eliminado a sensação de fome, não por materialização de pães e peixes, mas pela irradiação de suas energias magnéticas sobre a multidão.
Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer. […] Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativara atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria. (4)
Essa teoria tem razão de ser, uma vez que as energias magnéticas exercem poderoso efeito, bons ou maus, conforme a natureza da emissão fluídica e as intenções do operador. Em relação a Jesus, esse efeito é inimaginável, pois o Mestre sabia (e sabe) conjugar, entre si, profundo amor ao semelhante e inigualável conhecimento das leis que regem a produção dos fenômenos espirituais e materiais.
O Espiritismo ensina que os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, “[…] empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem.” Esta ação produz efeitos materiais, em decorrência das transformações ocorridas nas propriedades da matéria, como acontece nas curas, aparições e materializações de Espíritos, transporte de objetos, etc.
Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera. […] Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar. […] Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado material, para o homem vivo [reencarnado]; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste. (2)
Não podemos esquecer, contudo que, em outras oportunidades, Jesus agiu sobre as propriedades da matéria, modificando-a, tal como aconteceu na transformação de água e vinho, nas bodas de Caná (Jo 2.1-12). Cairbar Schutel, assim como André Luiz, (15) defendem a ideia de materialização de pães e peixes, da mesma forma que Espíritos e objetos são materializados, até porque, sobraram cestos contendo pedaços desses alimentos.
A “panificação do trigo”, sob as ordens e direção de Jesus Cristo, no deserto, não pode deixar de obedecer à lei da materialização dos corpos, tenham eles a natureza que tiverem, sejam de carne, de massa, de pedra. O fenômeno da materialização tem como complemento o da desmaterialização, e se assenta justamente num princípio positivo proclamado pela ciência materialista, que é a existência, no Universo, da força e da matéria: força e matéria são os princípios constitutivos do Universo. Mas como está mais que provado que a força e matéria não podem por si só produzir fenômenos inteligentes, e todo efeito inteligente deve forçosamente ter uma causa inteligente, o Espiritismo vem demonstrar a existência de Inteligências livres e individualizadas que presidem à direção da força e manipulam a matéria em suas múltiplas manifestações objetivas. (6)
Cairbar considera também que de “[…] duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que, pressurosa, seguia seus passos: o pão para o corpo e o pão para a alma, o pão que sacia a fome do Espírito.” (7) Não, nenhuma dúvida a esse respeito, pois, como esclarece Kardec, Jesus estava “[…] empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. […] Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo.” (5)
Jesus é o despenseiro divino. Compadeceu-se da humanidade que marchava na aridez da matéria, e franqueou-lhe a despensa celeste, onde há pão espiritual para todas as almas famintas, luz para clarear todas as trevas, consolo para todas as aflições, esperanças para todos os desalentados. Jesus multiplica incessantemente sua palavra, de modo que nunca deixará de fartar as multidões que acorrem a ele, e sempre sobrará para os que vierem depois. (9)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Pedir à turma que leia os subsídios deste Roteiro mais uma vez, anotando pontos considerados importantes. Em seguida, promover ampla discussão a respeito da interpretação espírita, relativa aos textos de Lucas e Mateus que tratam da multiplicação dos pães e dos peixes.
Referências:
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 14, item 14, p. 322.
2. Idem, ibidem - p. 322-323.
3. Idem - Capítulo 15, item 48, p.386.
4. Idem, ibidem - p. 386-387.
5. Idem - Item 51, p. 389.
6. CAIRBAR, Schutel. O espírito do Cristianismo. 8. ed. Matão: O Clarim, 2001 . Capítulo 12 (As multiplicações dos pães), p. 92-93.
7. Idem, ibidem - p. 96.
8. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. 15. ed. São Paulo: Pensamento, 2003. Capítulo 14 ( A morte de João Batista), item: A primeira multiplicação dos pães, p. 143.
9. Idem - Capítulo 15 (A tradição dos antigos), item: A segunda multiplicação dos pães, p. 152.
10. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 25 (Tende calma), p. 65-66.
11. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo131 (No campo social), p. 325-326.
12. Idem - Capítulo 133 ( Que tendes?), p. 329-330.
13. Idem - Palavras de vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Uberaba: CEC. 2005. Capítulo 9 (Socorro e concurso), p. 31.
14. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 91 (Migalha e multidão), p. 205.
15. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 26 (Jesus e mediunidade), item: Efeitos físicos, p. 202.