Roteiro 3
A vinda do Reino
Objetivos: Explicar o que é Reino dos céus, segundo a Doutrina Espírita. — Citar as principais condições para o estabelecimento do Reino de Deus na Terra. — Analisar que tipos de desafios podem ser encontrados pelo discípulo que deseja alcançar o Reino dos céus.
IDEIAS PRINCIPAIS
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O Reino dos céus é […] trabalho perseverante pelo bem real da Humanidade inteira. Humberto de Campos (Irmão X): Boa Nova, Capítulo 4.
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O Reino do Céu no coração deve ser o tema central de nossa vida. Tudo mais é acessório. Humberto de Campos (Irmão X): Boa Nova, Capítulo 12.
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É […] indispensável procuremos o Reino de Deus e sua justiça, que expressam felicidade com merecimento. Façamos o melhor, sentindo, pensando e falando o melhor que pudermos. Honrando o Reino de Deus e sua justiça, o nosso Divino Mestre passou na Terra em permanente doação de si mesmo… Eis o padrão que nos deve inspirar as atividades, porque não nos bastará crer acertadamente e ensinar com brilho, mas, acima de tudo, viver as lições. O reino de Deus inclui todos os bens materiais e morais, capazes de serem incorporados ao nosso Espírito, seja onde for, no entanto, importa merecê-lo por justiça e não apenas desejá-lo pela fé. Álvaro Reis: Instruções psicofônicas, Capítulo3.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
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O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou. Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. Mateus, 4.16,17.
Por este registro de Mateus — também citado por Marcos, 1.14,15 e Lucas, 4.43 — Jesus anuncia o início da era que marcaria o período de efetiva melhoria espiritual da Humanidade terrestre. Trata-se de um processo que implica evolução moral do Espírito e secundado pelas conquistas do conhecimento. O progresso dos seres se desenvolve ao longo das reencarnações sucessivas e durante estadias no plano espiritual. O sucesso desse empreendimento depende da predisposição e dos esforços individuais.
O Reino dos céus ou Reino de Deus é o tema central da pregação de Jesus, segundo os evangelhos sinóticos. Enquanto Mateus, que se dirige aos judeus, na maioria das vezes fala em “Reino dos céus”, Marcos e Lucas falam sobre o “Reino de Deus”, expressão esta que tem o mesmo sentido daquela, ainda que mais inteligível para os não judeus. O emprego de “Reino dos céus”, em Mateus, certamente é devido à tendência, no judaísmo, de evitar o uso direto do nome de Deus. Seja como for, nenhuma distinção quanto ao sentido, deve ser suposta entre essas duas expressões […]. (2)
A “vinda do Reino dos céus” atinge diretamente o coração. Não há imposição nem violência, de qualquer espécie, de vez que o “Reino dos céus” se manifesta nos escaninhos profundos da alma, sem o fantasma do constrangimento ou da coação. Por não compreender a essência do reinado divino, que é a prática da Lei de Amor, a legislação humana impõe, pune e exige. Entretanto, por ser o Amor o substrato da construção do Reino dos céus, opera com paciência e perseverança até que os homens despertem totalmente e o recebam definitivamente. Por este motivo, afirmou Jesus, segundo o registro de Lucas: “O Reino de Deus está entre vós” (Lc 17.21).
O Reino Divino não será concretizado na Terra, através de atitudes extremistas. O próprio Mestre asseverou-nos que a sublime realização está no meio de nós. A edificação do Reino Divino é obra de aprimoramento, de ordem, esforço e aplicação aos desígnios do Mestre, com bases no trabalho metódico e na harmonia necessária. (12)
2. Interpretação do texto evangélico
A palavra “povo” traz o sentido de coletividade ou de agrupamento de indivíduos, como se sabe. Pode fazer referência a todos os habitantes do Planeta ou de uma parte destes. No texto evangélico em questão, refere-se a um povo específico o “que estava assentado em trevas”, que faz, por sua vez, referência cruzada com Isaías, 9.2. Mas, há algo mais: o referido povo além de se encontrar em trevas, estava “assentado”, ou seja, totalmente acomodado na situação.
Afinal, o que significa “estar em trevas”? Que povo era aquele que “estava assentado em trevas”?
A palavra “trevas” significa estado de ignorância e de desinformação, relativo às verdades espirituais. O indivíduo pode até possuir informações de natureza espiritualista ou religiosa. Entretanto, tais informações são mantidas na superfície do processo evolutivo, sem força moral suficiente para operar uma verdadeira transformação no ser, tornando-o melhor. É por este motivo que o Cristo assevera: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
A Doutrina Espírita esclarece que não é suficiente o indivíduo estar informado sobre um ou outro ensino moral. É necessário desenvolver esforço persistente de melhoria espiritual, combatendo as imperfeições.
O espírita, nesse particular, está suficientemente esclarecido de que para se libertar das trevas é preciso seguir Jesus, incorporando em suas ações cotidianas a mensagem de amor ensinada no Evangelho. Entretanto, para se transformar em “a luz do mundo” (“vós sois a luz do mundo” — Mt 5.14), é preciso esforço maior.
Há quem admire a glória do Cristo. Mas a admiração pura e simples pode transformar- se em êxtase inoperante. Há quem creia nas promessas do Senhor. Todavia, a crença só por si pode gerar o fanatismo e a discórdia. Há quem defenda a revelação de Jesus. Entretanto, a defesa considerada isoladamente pode gerar o sectarismo e a cegueira. Há quem confie no Divino Mestre. Contudo, a confiança estagnada pode ser uma força inerte. Há quem espere pelo Eterno Benfeitor. No entanto, a expectativa sem trabalho pode ser ansiedade inútil. Há quem louve o Salvador. Louvor exclusivo, porém, pode coagular a adoração improdutiva. A palavra do Enviado Celeste, entretanto, é clara e incisiva: — “Aquele que me segue não andará em trevas.” (4)
“O povo que estava assentado em trevas” representa, em especial, os religiosos que priorizam as práticas e a teologia em detrimento do ensinamento espiritual, elemento renovador da posição evolutiva do ser humano. Sendo assim, é imperativo penetrar na essência dos ensinamentos e segui-los na íntegra. Há religiões mais esclarecidas do que outras, mas todas ensinam o bem. O religioso que se prende às práticas da religião, não se revela suficientemente atento ao processo de transformação moral e, em geral, não mede os efeitos dos seus atos na vida das pessoas e na sociedade. Em consequência, desenvolve excessivo apego às ordenações da existência material. Por exemplo, pelo “[…] simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente.” (1)
“O povo que estava assentado nas trevas” pode indicar, igualmente, qualquer coletividade humana que se mantém indiferente ao processo de melhoria espiritual. Esse povo representa os grupos de pessoas descuidadas, ignorantes da realidade e alheias à manifestação da vida. Cedo ou tarde, serão sacudidas pela lei do progresso e verão a “grande luz”, segundo o relato do texto evangélico.
Sigamos de perto o sentido desta orientação de Emmanuel, a fim de não nos comprometer com a ignorância e retardar o nosso processo evolutivo:
Cede aos poderes humanos respeitáveis o que lhes cabe por direito lógico da vida, mas não te esqueças de dar ao Senhor o que lhe pertence. […] Não convém concentrar em organizações mutáveis do plano carnal todas as nossas esperanças e aspirações. O homem interior renova-se diariamente. Por isso, a ciência que lhe atende as reclamações, nos minutos que passam, não é a mesma que o servia, nas horas que se foram, e a do futuro será muito diversa daquela que o auxilia no presente. A política do pretérito deu lugar à política das lutas modernas. Ao triunfo sanguinolento dos mais fortes ao tempo da selvageria sem peias, seguiu-se a autocracia militarista. A força cedeu à autoridade, a autoridade ao direito. No setor das atividades religiosas, o esforço evolutivo não tem sido menor. […] Examinando a fisionomia indisfarçável da verdade, como hipertrofiar o sentimento, definindo-te, em absoluto, por instituições terrestres que carecem, acima de tudo, de teu próprio auxílio espiritual? (3)
A evolução se encaminha de forma que envolve toda a comunidade humana, em um ou outro momento: ao lado das criaturas já plenamente esclarecidas, encontram-se as ignorantes, de diferentes graus. Estas, no momento propício, porém, serão banhadas por uma “grande luz” implementadora do progresso espiritual. E os que estavam “assentados” se erguerão.
A segunda parte do versículo 16 apresenta esta informação: “e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou.” Não deixa de ser interessante este detalhe. Percebemos que, o esclarecimento doutrinário não se aplica apenas ao povo “que estava assentado em trevas” (ou seja, todos os ignorantes e desinformados), mas, especificamente, aos que “estavam assentados na região e sombra da morte”.
As anotações do evangelista apontam, portanto, para um grupo de Espíritos que se encontrava em uma esfera, morada ou região evolutiva. É preciso atenção: tais localidades não devem ser confundidas com habitações físicas. São moradas mentais, os locais onde a mente se encontra, de acordo com o progresso evolutivo alcançado. São regiões eleitas por cada um, de acordo com as manifestações do livre arbítrio, e em decorrência dos desejos, vontade e seleções íntimas.
Nesta exortação de Jesus há um alerta-convite: “Arrependei-vos!” e um anúncio: “é chegado o Reino dos céus”.
“Arrependei-vos!” é expressão portadora do convite que tem percorrido os séculos, aguardando o despertar e a disposição de cada um. Muitos, pelos percalços e provações existenciais, aproximam-se desse momento decisório. Não basta apenas o remorso dos erros cometidos nem o simples desejo de se tornar criatura melhor. Muitos indivíduos iniciam o trabalho renovador, não porque estejam esclarecidos da importância do progresso espiritual, mas porque sofrem remorso. Submetidos à tutela do arrependimento, buscam então alívio para a consciência culpada.
Vemos, assim, que o remorso tem conduzido muitos Espíritos ao arrependimento que, por sua vez, oferece bases para programar a reparação dos erros cometidos perante a Lei de Deus.
A conquista do Reino de Deus, ou dos céus, apresenta, em síntese, as seguintes características, transmitidas pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos), através da mediunidade de Chico Xavier:
1. Está substanciado no Evangelho, transmitido por Jesus, o mensageiro da Vida Eterna. (5)
2. Tem como finalidade construir um mundo renovado, onde não exista “[…] nem opressores, nem vítimas, e, sim, irmãos, filhos do mesmo Pai…” (5)
3. Obedece ao seguinte lema: “O amor a Deus, acima de tudo, e ao próximo como a nós mesmos.” (5)
4. A norma de trabalho é: “Bondade para com todos os seres, inclusive os próprios inimigos.” (5)
5. O programa se fundamenta na cooperação “[…] com o Pai Supremo, sob todos os aspectos, em favor do mundo regenerado.” (5)
6. O objetivo é garantir: “Felicidade para todas as criaturas.” (5)
7. São diretrizes da conquista do Reino de Deus:
Perdão extenso e sincero, esquecimento do mal, auxilio mútuo, fraternidade legítima, oração pelos adversários e perseguidores, serviço desinteressado e ação altruística sem recompensa, com absoluta perseverança no bem, até ao fim da luta. (6)
8. A implantação do Reino ocorrerá sem a presença de homens armados: “O Mestre confia no concurso dos homens de boa vontade, na salvação da Terra. […] Nossa batalha é da luz contra a sombra; dispensa a competição sangrenta.” (7)
9. Além das qualidades ou virtudes morais comuns, o candidato deve demonstrar: “Extrema fidelidade a Deus, num coração valoroso e fraterno, disposto a servir na Terra em nome do Céu.” (7)
Para que tais condições sejam atendidas, o candidato deve estar informado a respeito destas instruções:
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Os alicerces da nova ordem estão estabelecidos nas “[…] obrigações do trabalho para todos.” (9)
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Há uma organização hierárquica de Espíritos na qual os mais evoluídos auxiliam os que se encontram em situação pior, e a ocupação dos mais inteligentes é instruir os ignorantes. (10)
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Os homens bons ajudarão “[…] aos maus, a fim de que estes se façam igualmente bons.” (11)
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Os ricos deverão amparar “[…] os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.” (11)
Todas essas normas serão ditadas conforme “[…] amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.” (11) Da mesma forma, a fiscalização desse novo regime contará com o nível de compreensão da responsabilidade de cada colaborador. (11)
A implantação do Reino dos céus no coração dos homens dispensará imposições, prisões, impostos, castigos e lutas armadas, mas reclamará de todos nós dedicação constante, pois a “[…] atividade divina jamais cessa e justamente no quadro da luta benéfica é que o discípulo insculpirá a própria vitória.” (8)
O […] espírito de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e, sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no mundo. (11)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Fazer uma apresentação das ideias norteadoras do estudo, inseridas neste Roteiro. Em sequência, pedir à turma que realize as seguintes atividades, em grupos: a) leitura do Roteiro; b) destaque dos pontos considerados mais importantes; c) indicação dos principais obstáculos que poderiam dificultar ou impedir a implantação do Reino dos céus no nosso Planeta, tendo como base os itens dos Subsídios numerados de 1 a 9 e, também, os colocados em seguida a estes, assinalados com marcadores.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 2, item 5.
2. DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. Tradução de João Bentes. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 1148.
3. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 148 (O herdeiro do Pai), p. 363-364.
4. Idem - Capítulo 166 (Sigamo-lo), p. 403.
5. Idem - Luz acima. Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos). 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 15 (O candidato apressado), p. 71.
6. Idem, ibidem - p. 71-72.
7. Idem, ibidem - p. 72.
8. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 133 (O grande futuro), p. 282.
9. Idem - Pontos e contos. Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos). 110. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 1 (O programa do Senhor), p. 16.
10. Idem, ibidem - p. 16-17.
11. Idem, ibidem - p. 17.
12. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007 Capítulo 177 (Edificação do reino), p. 392.