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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo III — Ensinos por parábolas

Roteiro 3


A rede


 

Objetivo: Interpretar a parábola da rede, segundo o entendimento espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS


  • A parábola da rede nos fala do momento de mudanças que a Humanidade terrestre deverá passar, decorrentes da lei de progresso. Ocorrerá, então, uma significativa transformação moral.

  • É o fim do mundo velho, com suas confusões, suas discórdias, seus convencionalismos, suas iniquidades sociais, seus ódios, suas lutas armadas, e o advento de um mundo novo, sob a égide da verdade, do bom entendimento, da lisura de caráter, da equidade, do amor, da paz e da fraternidade universal. Rodolfo Calligaris: Parábolas evangélicas, p. 25-26.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes. Mateus, 13.47-50.

A parábola da rede nos fala do momento de transformação que a humanidade terrestre deverá passar.


Significa, […], o fim deste ciclo evolutivo da Humanidade terrena, com o desaparecimento de todos os seus usos, costumes e instituições contrários à Moral e à Justiça. (4)

A Humanidade tem realizado, até ao presente incontáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho. (3)


2. Interpretação do texto evangélico

  • Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes. (Mt 13.47).

A expressão Reino dos céus, muito usada por Jesus em suas lições, tem dois sentidos: o sentido objetivo e o sentido subjetivo. Quando usada objetivamente designa o mundo exterior, isto é, o Universo, do qual a Terra faz parte e onde habitamos. Reserva-se, então, a denominação reino dos céus para os lugares felizes do Universo, que são os mundos regenerados, os felizes e os divinos. […] Tomada no sentido subjetivo, a expressão Reino dos céus designa a tranquilidade de consciência, a paz interior, a felicidade íntima, a suavidade no coração, a calma interna, a fé viva em Deus, tudo isso originado da perfeita compreensão das leis divinas e de completa submissão à vontade do Senhor. (6)


O religioso tradicional costuma ver “céus” como um lugar específico, a ser conquistado após a morte, de acordo com a sua conduta moral durante a existência física. Para nós, espíritas, abre-se uma nova concepção: o “Reino dos céus” é um estado de alma, reflexo da soma de caracteres positivos que já detemos e operacionalizamos na existência.

Na parábola, o Reino dos céus é comparado a uma rede. Não se trata, porém, de uma rede enrolada e encostada à margem, sem utilidade. Mas de um instrumento em perfeita condição de uso, que é lançado ao mar com técnica e sabedoria. “Lançar.” envolve trabalho meticuloso, operação inteligente e bem direcionada. Neste sentido, a rede deve estar sempre ¡ pronta e bem cuidada, apta para o trabalho.


A rede representa a Lei de Amor, inscrita por Deus em todas as consciências, os peixes de toda a espécie apanhados por ela são os homens de todas as raças e de todos os credos, que serão julgados de acordo com as suas obras. (5)


De um lado está a rede a ser lançada do barco e, do outro, o mar, precioso celeiro de onde podem emergir elementos valiosos. O barco é a nossa posição perante a vida.

A Lei de Amor, aqui representada pela rede, nos oferece, em qualquer situação e época, os instrumentos necessários para navegarmos no “mar da vida” com segurança. Tais instrumentos são: a inteligência, a saúde, a palavra, os recursos financeiros, o aprendizado, a família, os amigos, o apoio religioso etc. São elementos que se bem aproveitados e aplicados, poderão suprir o nosso Espírito, concedendo-nos sustentação para ascender a novos patamares de progresso. A rede é “lançada” num plano onde vige a heterogeneidade; num mundo que, além de escola é, também, fonte inesgotável de recursos, onde se pode capturar auxílio de toda natureza.

A arte da convivência pacífica demonstra que é importante saber qual é a condição espiritual das pessoas que nos são apresentadas, trazidas ao nosso barco existencial. Dentre elas, encontramos as de caráter digno, ilibado. Outras, mais despreparadas, ainda estão presas aos interesses materiais. Algumas, entretanto, já se identificam com os processos de melhoria espiritual. É lógico que todos os que compartilham, direta e indiretamente, a jornada de nossa vida, devem merecer compreensão e serem vistos como irmãos. Devemos estar sempre atentos ao que cada pessoa tem a nos oferecer.

Entretanto, ainda que guiados pelos valores da moralidade e do conhecimento, temos a liberdade para agir, fato que define a nossa conduta perante a sociedade. O correto é seguir as diretrizes do bem, realizando escolhas acertadas, observando com atenção as pessoas e os acontecimentos, como nos orienta Emmanuel.


Observa em derredor de ti e reconhecerás onde, como e quando Deus te chama em silêncio a colaborar com ele, seja no desenvolvimento das boas obras, na sustentação da paciência, na, intervenção caridosa em assuntos inquietantes para que o mal não interrompa a construção do bem, na palavra iluminativa ou na seara do conhecimento superior, habitualmente ameaçada pelo assalto das trevas. Sem dúvida, em lugar algum e em tempo algum, nada conseguiremos, na essência, planejar, organizar, conduzir, instituir ou fazer sem Deus; no entanto, em atividade alguma não nos é lícito olvidar que Deus igualmente espera por nós. (7)

  • E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. (Mt 13.48).

Uma vez arregimentados os valores evolutivos dessa pesca simbólica, a rede é puxada a fim de dar início ao esforço seletivo. Isto é fato rotineiro no encaminhamento da existência. A cada momento fazemos nossas escolhas, operando nas mais variadas frentes, pela seleção de companhias, situações, interesses e desejos. Em consequência, nos deparamos sempre com os resultados do uso do livre-arbítrio: positivos ou negativos.

Os pontos positivos são vitórias espirituais que nos fazem ascender a mais um degrau na escada evolutiva. Os resultados negativos serão “lançados fora”, no mar da existência, para que ocorram as devidas retificações, no momento apropriado, determinado pela lei de causa e efeito.

Essa é uma contextualização da parábola no plano individual. Entretanto, o processo de seleção — simbolizado na triagem dos peixes bons e ruins que o texto evangélico especifica — pode ser aplicado às transformações que, coletivamente acontecem na Humanidade.


Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. […] De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordi­nados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo, fatais em seu conjunto […] (2)


As convulsões físicas e morais que presentemente assolam o planeta são indicativas da existência de um estado de transição que a Humanidade passa. É preciso, pois, muita prudência no agir, uma vez que “as redes” do Evangelho foram lançadas há tempo. Se nos mantivermos fiéis aos ensinamentos do Cristo, agora esclarecidos pela Doutrina Espírita, não há razão de temermos os acontecimentos futuros: o bem prevalecerá na Terra.

A propósito, Jesus nos orienta: “Pedi e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Lc 11.9). Emmanuel, por sua vez, analisando esta orientação de Jesus esclarece:


Pedi, buscai, batei… Estes três imperativos da recomendação de Jesus não foram enunciados sem um sentido especial. No emaranhado de lutas e débitos da experiência terrestre, é imprescindível que o homem aprenda a pedir caminhos de libertação da antiga cadeia de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e hábitos cristalizados. É necessário desejar com força e decisão a saída do escuro cipoal em que a maioria das criaturas perdeu a visão dos interesses eternos. Logo após, é imprescindível buscar. A procura constitui-se de esforço seletivo. O campo jaz repleto de solicitações inferiores, algumas delas recamadas de sugestões brilhantes. É indispensável localizar a ação digna e santificadora […]. É imperativo aprender a buscar o bem legítimo. Estabelecido o roteiro edificante, é chegado o momento de bater à porta da edificação; sem o martelo do esforço metódico e sem o buril da boa vontade, é muito difícil transformar os recursos da vida carnal em obras luminosas de arte divina, com vistas à felicidade espiritual e ao amor eterno. (8)

  • Assim será na consumação nos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos. (Mt 13.49).

À primeira vista, este versículo sugere que estamos destinados a aguardar o momento da consumação ou julgamento final, sempre de sentido punitivo. Mas a “consumação dos séculos” é um fato de natureza evolutiva.

Significa, apenas, o fim de um período e início do outro, marcados pelas inevitáveis transições.


Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. (1)


Jesus, como governador do Planeta, presidirá essas transformações, auxiliado pelos seus servidores diretos, os Espíritos puros, citados como “anjos” na parábola.

Esses prepostos celestiais, por sua vez, contam com o apoio de Espíritos esclarecidos, benfeitores e entidades amigas que, assumindo missões e compromissos, como encarnados ou desencarnados, saberão aliviar dores, administrar perturbações e conflitos.


Ser-nos-á sempre fácil discernir a presença dos mensageiros divinos, ao nosso lado, pela rota do bem a que nos induzam. Ainda mesmo que tragam consigo o fulgor solar da Vida Celeste, sabem acomodar-se ao nosso singelo degrau nas lides da evolução, ensinando-nos o caminho da Esfera Superior. E ainda mesmo se alteiem a culminâncias sublimes na ciência do Universo, ocultam a própria grandeza, para guiar-nos no justo aproveitamento das possibilidades em nossas mãos. Sem ferir-nos de leve, fazem luz em nossas almas, a fim de que vejamos as chagas de nossas deficiências, de modo a que venhamos saná-las na luta do esforço próprio. (9)

  • E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes. (Mt 13.50)

Efetivamente, a Humanidade terrestre passa por ocorrências difíceis, vivendo sob o impacto de dores e de sacrifícios. Neste sentido, é sempre válida esta advertência de Paulo aos coríntios: “E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. Paulo (1 Cor. 10.10,11)

O “pranto” e o “ranger de dentes” são as provações amargas que os Espíritos endividados, perante Deus e si mesmos, deverão passar. O fogo depurador das reencarnações reparadoras, determinado pela lei de causa e efeito, lhes reajustarão a marcha evolutiva.

No momento de transição porque passa o Planeta, caracteriza-se uma aferição de valores morais e de impulsos progressivos da inteligência humana, marcados, sim, por prantos e ranger de dentes, necessários ao processo de transformação da Humanidade.

Nesse sentido, é preciso aprender a glorificar as tribulações, evitando lamentá-las.


Recordemos que a tribulação produz fortaleza e paciência e, em verdade, ninguém encontra o tesouro da experiência, no pântano da ociosidade. É necessário acordar com o dia, seguindo-lhe o curso brilhante de serviço, nas oportunidades de trabalho que ele nos descortina. A existência terrestre é passagem para a luz eterna. E prosseguir com o Cristo é acompanhar-lhe as pegadas, evitando o desvio insidioso. (10)



 

ANEXO


Citação de João 4.14



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Possibilitar ampla análise da parábola e complementar o estudo com uma breve exposição sobre os capítulos 17 e 18, de A gênese, que tratam, respectivamente, do “Juízo final” e dos “Sinais dos tempos”.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A gênese. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 17, item 63, p. 397-398.

2. Idem - Capítulo 18, item 2, p. 402.

3. Idem - Item 5, p. 403-404.

4. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Item: Parábolas da rede, p. 25.

5. Idem, ibidem - p. 26.

6. RIGONATTI, Eliseu. O Evangelho dos humildes. 16. ed. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2004. Capítulo 13, item: O Reino dos céus, p. 139.

7. XAVIER. Francisco Cândido. Encontro marcado. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 16 (Deus e nós), p. 60.

8. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 109 (Três imperativos), p. 233-234.

9. Idem - Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 35 (Mensageiros divinos), p. 87.

10. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 142 (Tribulações), p. 318.


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