O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice |  Princípio  | Continuar

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO I — CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Módulo II — O Cristianismo

Roteiro 18


Epístolas de João e de Judas


Objetivo: Analisar, à luz do Espiritismo, os principais ensinos existentes nas epístolas escritas por João e por Judas.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • As três Epístolas de João apresentam uma preocupação do apóstolo e evangelista relacionado a conflitos existentes nas comunidades cristãs de Éfeso e da Ásia Menor, em razão do comportamento de certos membros das igrejas de tentavam conciliar as ideias cristãs a outras, provenientes do gnosticismo, de filosofias gregas e de práticas de magia.

  • A Epístola de Judas foi destinada a comunidades cristãs que estariam sofrendo a influências de falsos doutores. O autor procura denunciá-los […] como pessoas ímpias cuja condenação foi profetizada, e insta os seus leitores a preservar o Evangelho apostólico vivendo segundo suas exigências morais. Dicionário da Bíblia, p. 173.



 

SUBSÍDIOS


1. Epístolas de João


Além do seu evangelho, João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago Maior, escreveu três epístolas e o livro do apocalipse.

Há muita semelhança, literária e doutrinária, entre as epístolas e o evangelho de João, de forma que é praticamente impossível negar a sua autoria. É verdade que a segunda e a terceira epístolas deram lugar a certas dúvidas, cujo eco se encontra em Orígenes, Eusébio de Cesareia e Jerônimo. (1)

As três epístolas joaninas formam uma unidade de composição, embora cada uma possua a sua especificidade.


A terceira epístola é provavelmente a primeira na data; procura resolver um conflito de autoridade que surgira em uma das igrejas sob a autoridade de João. A segunda epístola põe de sobreaviso uma ou outra igreja particular contra a propaganda de falso doutores que negam a realidade da encarnação. Quanto à primeira epístola, sem dúvida a mais importante. Apresenta-se como mais como uma carta encíclica destinadas às comunidades [cristãs] da Ásia, ameaçadas pelos dilaceramentos das primeiras heresias. João nela condensou o essencial de sua experiência religiosa. (1)


É quase certo que essas cartas foram escritas em Éfeso, na virada do século I para o II, à mesma época da escritura do seu evangelho. (4)

As três Epístolas de João apresentam um ponto em comum, relacionado aos conflitos existentes nas comunidades cristãs de Éfeso e da Ásia Menor. “Pode-se supor que, nas diversas comunidades joaninas, tenham começado a aparecer grupos religiosos influenciados pelo gnosticismo.” (2) A influência das ideias gnósticas provocam divisões nas igrejas. As cartas de João representam um tipo de reação a essa situação, apelando para a necessidade de manter a mensagem cristã intocável. (4)

Gnosticismo foi um movimento histórico e religioso cristão, fundamentado na gnose (palavra grega que significa conhecimento), surgido nos séculos II e III, e de natureza filosófica e inspirada nas ideias do neoplatonismo e dos pitagóricos. Originou-se provavelmente na Ásia Menor a partir de pensamentos existentes na Babilônia, Egito, Síria e Grécia. O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, como os mistérios de Elêusis, com as doutrinas do Cristianismo. Em seu sentido mais abrangente, gnosticismo significa “a crença na salvação pelo conhecimento.” (8)

O apóstolo João enfrentou sérias dificuldades para manter a mensagem cristã livre do intelectualismo, gnóstico e de outras ideias, especialmente na cidade de Éfeso. “Geralmente reconhecida como a primeira e a mais notável metrópole da província romana da Ásia, Éfeso desempenhou um papel histórico no movimento do Cristianismo desde a Palestina até Roma.” (5)


Do período clássico ao bizantino, Éfeso exerceu hegemonia na região jônica. Era famosa por seus filósofos, artistas, poetas, historiadores e retóricos. Deu nítidas contribuições para a história intelectual e religiosa desde o período pré-socrático até os ressurgimentos filosóficos do Império Romano mais tardio. Não admira que […] João tenha, ao que se conta, escrito o quarto Evangelho em Éfeso, e que tenha sido o local de conversão de Justino Mártir, o primeiro filósofo cristão. […] A cidade era [também] famosa como um centro de magia e taumaturgia. A expressão grega Ephesia grammata (letras efésias) tornou-se uma designação genérica para toda sorte de palavras mágicas e encantações apotropaicas [orações ou frases para afastarem influências maléficas]. A cidade atraia exorcistas judeus bem como seus equivalentes gentios, como Apolônio de Tiana. (5)


1.1 Síntese dos principais ensinos das epístolas de João


João apela aos cristãos, nas três cartas, no sentido de preservarem a pureza doutrinária do Cristianismo, superando as divergências pela legítima prática do amor. O apelo do apóstolo atravessa os séculos e chega até nós, mantendo uma atualidade surpreendente, nos faz ver as dificuldades para se manter a pureza doutrinária dos ensinamentos superiores.

Percebe-se, nas três epístolas, a tentativa do apóstolo de encontrar uma solução para evitar que a crença cristã seja adulterada por ideias gnósticas e outras ideias correntes nas comunidades cristãs da Ásia Menor.

  • “Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos.” (1 João, 2.9-11)


Quem ama o próximo sabe, acima de tudo, compreender. E quem compreende sabe livrar os olhos e os ouvidos do venenoso visco do escândalo, a fim de ajudar ao invés de acusar ou desservir. É necessário trazer o coração sob a luz da verdadeira fraternidade, para reconhecer que somos irmãos uns dos outros, filhos de um só Pai. (10)

  • “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1  João, 5.5)

  • “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou. Quem crê no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho; quem em Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu.” (1 João, 5.9,10)”

  • “Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (2 João, 9-11)


Em todos os lugares e situações da vida, a caridade será sempre a fonte divina das bênçãos do Senhor. […] Assistência, medicação e ensinamento constituem modalidades santas da caridade generosa que executa os programas do bem. São vestiduras diferentes de uma virtude única. Conjugam-se e completam-se num todo nobre e digno. […] Antes, porém, da caridade que se manifesta exteriormente nos variados setores da vida, pratiquemos a caridade essencial, sem o que não poderemos efetuar a edificação e a redenção de nós mesmos. Trata-se da caridade de pensarmos, falarmos e agirmos, segundo os ensinamentos do Divino Mestre, no Evangelho. É a caridade de vivermos verdadeiramente n’Ele para que Ele viva em nós. (12)

  • “O presbítero ao amado Gaio, a quem, na verdade, eu amo. Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram da tua caridade, aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás; porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade. Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Pelo que, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja. Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem é de Deus; mas quem faz mal não tem visto a Deus.” (3 João, 1,9-11)


A sociedade humana não deveria operar a divisão de si própria, como sendo um campo em que se separam bons e maus, mas sim viver qual grande família em que se integram os Espíritos que começam a compreender o Pai e os que ainda não conseguiram pressenti-Lo. Claro que as palavras “maldade” e “perversidade” ainda comparecerão, por vastíssimos anos, no dicionário terrestre, definindo certas atitudes mentais inferiores; todavia, é forçoso convir que a questão do mal vai obtendo novas interpretações na inteligência humana. […] Muita gente acredita que o “homem caído” é alguém que deve ser aniquilado. Jesus, no entanto, não adotou essa diretriz. Dirigindo-se, amorosamente, ao pecador, sabia-se, antes de tudo, defrontado por enfermo infeliz, a quem não se poderia subtrair as características de eternidade. Lute-se contra o crime, mas ampare-se a criatura que se lhe enredou nas malhas tenebrosas. O Mestre indicou o combate constante contra o mal, contudo, aguarda a fraternidade legítima entre os homens por marco sublime do Reino Celeste. (11)


2. Epístola de Judas


Esta Epístola […] foi escrita a uma igreja ou grupo de igrejas desconhecido para combater o perigo representado por certos mestres carismáticos que estavam pregando e praticando libertinagem moral. O autor procura denunciar esses mestres como pessoas ímpias cuja condenação foi profetizada, e insta os seus leitores a preservar o Evangelho apostólico vivendo segundo suas exigências morais. Apesar de sua brevidade, a carta é rica em conteúdo, graças à composição primorosa e sua economia de expressão, que por vez alcança um efeito quase poético. (6)


 Judas, o autor da epístola, é usualmente identificado como “irmão de Jesus.” (Mateus, 13.55) O autor também se identifica como “irmão de Tiago” — (versículo 1 da carta). “Nada nos obriga a identificá-lo com o apóstolo que tem o mesmo nome (Lc 6.16; At 1.13); ele mesmo também se distingue do grupo apostólico.” (2)


O autor tem evidentemente grande respeito pelo livro de Henoc, que é citado nos vv. 14,15 e ressoa em outras passagens. O v. 9 refere-se a um texto apócrifo não mais existente, talvez o final perdido do testamento de Moisés. O uso desse tipo de literatura pode situar a carta num contexto judaico-palestino, em que essas obras eram extremamente valorizadas. Outra indicação que aponta na direção do Cristianismo judaico-palestino, como o meio em que Judas escreveu, são seus métodos exegéticos, a confiança que deposita no texto hebraico da Bíblia em detrimento de sua tradução grega (a Septuaginta), a importância maior que confere à obrigação ética que à ortodoxia doutrinal, e sua perspectiva apocalíptica, que espera a parusia [nova vinda do Cristo] no futuro próximo. (7)


Essa epístola, aceita no cânone da igreja romana e da oriental, como escrita no ano 200. “A intenção de Judas é unicamente estigmatizar os falsos doutores que colocam em perigo a fé cristã. Ameaça-os com um castigo divino ilustrado com precedentes da tradição judaica” (versículos 5-7) (3) Censura-lhes, igualmente, a impiedade e a licenciosidade moral, particularmente suas blasfêmias contra Jesus e os anjos (versículos 4, 8-10). (3)


2.1 Síntese dos principais ensinos das epístolas de Judas


A Epístola de Judas foi endereçada aos “que foram chamados, amados por Deus e guardados em Jesus Cristo. (Jd 1)

O tema básico, desenvolvido em vinte e cinco versículos, sem divisão por capítulos, se resume num alerta contra os falsos doutores e o perigo que suas ideias podem ocasionar às comunidades cristãs.

  • “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos. Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.” (Jd 3,4)

  • “Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais, se corrompem. Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Corá. Estes são manchas em vossas festas de caridade, banqueteando-se convosco e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações, estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse.” (Jd 10-16)

  • “Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito. Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai a vós mesmos na caridade de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.” (Jd 19-21)


Em todos os lugares, encontramos pessoas sempre dispostas ao comentário desairoso e ingrato relativamente ao que não sabem. Almas levianas e inconstantes, não dominam os movimentos da vida, permanecendo subjugadas pela própria inconsciência. E são essas justamente aquelas que, em suas manifestações instintivas, se portam, no que sabem, como irracionais. Sua ação particular costuma corromper os assuntos mais sagrados, insultar as intenções mais generosas e ridicularizar os feitos mais nobres. Guardai-vos das atitudes dos murmuradores irresponsáveis. Concedeu-nos o Cristo a luz do Evangelho, para que nossa análise não esteja fria e obscura. O conhecimento com Jesus é a claridade transformadora da vida, conferindo-nos o dom de entender a mensagem viva de cada ser e a significação de cada coisa, no caminho infinito. Somente os que ajuízam, acerca da ignorância própria, respeitando o domínio das circunstâncias que desconhecem, são capazes de produzir frutos de perfeição com as dádivas de Deus que já possuem. (9)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Formar grupos para o estudo dos principais ensinos existentes nas epístolas citadas neste Roteiro. Apresentar, ao final da reunião, uma síntese do assunto analisado, à luz da Doutrina Espírita.




ANEXO


Citação de Atos dos Apóstolos, 4.32



Referências:

1. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002. Item: Introdução ao Evangelho e epístolas de João. São Paulo, p. 1841.

2. Idem - Item: Introdução às epístolas católicas, p. 2103-2104.

3. Idem, ibidem - p. 2104.

4. CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS. Cartas pastorais e cartas gerais. São Paulo: Paulus, 2001. Item: Introdução às cartas joaninas, p. 97.

5. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1. as pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Éfeso, p. 65.

6. Item: Judas, p. 173.

7. Idem, ibidem - p. 174.

8. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gnosticismo

9. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 48 (Guardai-vos), p. 111-112.

10. Idem - Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 159 (Na presença do amor), p. 389.

11. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 122 (Pecado e pecador), p. 259-260.

12. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 110 (Caridade essencial), p. 252-252.


Abrir